Blá blá e blá. É tudo mentira.
A vida só tem sido assim porque, há 20 anos nos apaixonámos e começamos uma coisa muito bonita.
Das coisas mais bonitas que a espécie humana é capaz: Uma história de amor.
Não é fácil para mim escrever o que vou escrever. Primeiro porque não é fácil falar sobre alimentação nos tempos que correm, em que existe uma completa globalização daquilo que comemos, sendo eu uma verdadeira amante das tradições alimentares portuguesas. Temos, por um lado os Mcdonalds e o lixo alimentar como uma parte integrante e quase transversal daquilo que se come (em maior ou menor escala), por outro a enorme proliferação de alimentos super naturais, super energéticos, super saudáveis que circulam de todas as partes do mundo para todas as partes do mundo.
Não vou falar sobre o peso ecológico que tem o transporte e exportação de todos estes produtos, que não são produzidos nem perto do nosso país, e não são só os açaís e quinoas da vida, pode ser uma simples banana ou uma melancia em Dezembro. Mas, do peso que tem para o nosso país a diminuição de consumo de alguns alimentos. Por exemplo, o leite – esse considerado “veneno” horrível que só faz mal e que é completamente anti natura e altamente tóxico a partir do momento em que não vem da maminha da nossa mãe mas da maminha de uma vaca – não sei pormenores sobre assunto, mas sei que os produtores de leite estão a passar a pior fase de sempre, enquanto os ovos, esses, ainda não ouvi falar mas a julgar pelas fotografias que vejo nos instagrams de todas os chefs e gurus da alimentação saudável imagino que estejam a passar a melhor fase de sempre! – se calhar não era má ideia os produtores de leite transformarem as suas vacas em galinhas (ou então ponham as vacas a produzir batidos detox).
Enfim, a alimentação é um assunto que, se eu não tivesse algum cuidado corria o risco de ser o maior post da vida do seismaisdois, porque este assunto dá pano para mangas. Como podem ver aqui.
Agora “back to the point”. Ontem, quando publiquei sobre o fim de semana não mencionei a razão pela qual lá fomos (bom, mais a desculpa, porque as razões são muitas)
E…a partir daqui aconselho os mais sensíveis a não lerem, ok?
Fomos matar o nosso porco (sim, nós tínhamos um porco).
“Então Maria? Com a mania que és protectora dos animais e foste matar um porco?? Não estou a perceber nada….”
Sim, sou sobretudo pelos animais é verdade. Mas não sou vegetariana. Fui, durante 10 anos, mas já não sou. Como carne e dou carne à minha família.
Mas a carne é um assunto que não me deixa à vontade. Porque parece que só temos uma hipótese quando comemos carne: não pensar muito no percurso dessa carne – e eu, quando como e quando preparo comida para a minha família, faço questão de pensar. Pensar, principalmente no percurso do alimento que estou a confeccionar. Por isso temos uma horta, por isso fazemos o nosso pão, iogurtes, maionese e por aí fora. Por isso tento sempre ir à matéria prima mais prima que consigo. Por isso tentamos ter uma alimentação sazonal. Li há pouco tempo que, nos supermercados, devemos comprar o menos possível nos corredores do meio e consumir apenas aquilo que está junto às paredes porque é aí que encontramos aquilo que é mais fresco.
Há cerca de um ano escrevi sobre a carne. Prometi que íamos tentar só comer carne de animais que tivessem vivido com dignidade. Dignidade e sem químicos. Claro que, esta promessa comprometeu em grande parte o nosso consumo de carne, que reduzimos para mais de metade – e isso foi óptimo.
Eis senão quando os nossos queridos e grandes amigos Rita e Gonçalo, que nos conhecem tão bem, se lembraram de nos deixar criar um porco nas suas terras. E assim foi.
Já no ano passado tínhamos estado presentes neste momento que o Gonçalo faz um esforço por manter não só porque é tradição mas porque faz sentido e cria laços. Mas desta vez para nós foi mais a sério.
O nosso porco (que eu nunca conheci) estava a crescer desde o Verão até que, depois de uns meses bem alimentado, feliz e em liberdade com os seus amigos, chegou a sua hora (que eu não assisti). Foi um dia intenso, carregado de tradições – ai Maria de Lurdes Modesto pensei tanto em si – e emoções. Os nossos filhos (que embora não tenham assistido ao momento da morte) viram o porco por dentro. Aprenderam o que é uma bifana, um lombo ou um toucinho. Nunca vão pensar que a carne vem das embalagens do supermercado. Já sabem como é o processo natural. E, se um dia escolherem não comer carne vou, obviamente, respeitar.
O nosso congelador, está neste momento carregado de carne. De carne que sei como viveu, o que comeu e como morreu.
Querido porco: prometo que, a tua vida será honrada e que tudo o que for possível farei para que acabem como o sofrimento e maus tratos dos teus irmãos que crescem e engordam em produção intensiva, sem espaço para se mexerem, alimentados a antibióticos e outras porcarias. E, uma certeza tenho, tão cedo não volto a comprar carne de porco.
Vivo a traçar objectivos, metas, opções e focos que me permitam viver tudo mais intensamente .
Sou ambiciosa, não no sentido profissional do termo, mas no sentido de querer ter a melhor vida possível e aproveitar tudo o que posso. E, por isso, estou sempre a definir e a redefinir ideias e focos, para que todas as áreas da minha vida sejam preenchidas. Claro que estas não consistem apenas em fazer e produzir (como às vezes pode parecer) senão não preenchia com certeza todas as áreas, fazem parte dos meus focos de vida principais: amar, mimar, descansar, aprender, conhecer, realizar, curtir.
Tento criar um equilíbrio entre todas as áreas da minha vida focando-me um bocadinho mais aqui, outro bocadinho mais ali para ir reabastecendo de energia todas as áreas. Como se fosse um jogo. Estão a ver um jogo de computador com várias barras de energia? é assim que imagino a vida – uma vida, muitas áreas. Claro que queremos que todas as barras estejam o mais cheias possíveis, mas isso é praticamente impossível, por isso tento compensar umas e outras, e outras e umas. Tento escolher e injectar com energia aquilo que precise mais de ser investido. Tomar as decisões certas e que mais consigam satisfazer todas as partes principais da vida.
Alguém jogava ao “Prince”? Lembram-se que havia uma batota (poptrain) que ficávamos com vidas infinitas? Pois é, era óptimo e tudo muita fácil, podíamos tomar decisões sem pensar verdadeiramente nelas, podíamos escolher um caminho, ser “cortados ao meio por uma lâmina” que depois voltávamos sempre ao início e escolhíamos tudo outra vez. Dessa vez melhor. Mas isso na vida não existe. Temos que fazer escolhas e decisões e não dá para voltar atrás nem nos podemos lamentar do que poderíamos ter feito e não fizemos, do que passou e não foi aproveitado, do que existiu mas não foi investido do que recordamos mas não vivemos.
Claro há sempre aquela uma outra área que está mais em baixo e que não há meio de ser reabastecida, então aí temos de pensar que felizmente existem tantas outras áreas que podem compensar a frustração daquela parte da nossa vida não correr bem. Não que signifique desistir dela, mas se calhar dar-lhe menos importância e então dar tudo por tudo pelas outras.
Por exemplo, as áreas que eu mais me foco são: o amor, a minha família, os meus amigos, o trabalho, a minha casa e os meus “hobbys”. Pode parecer desinteressante aos olhos de um astronauta, limitado aos olhos de um viajante e pobre aos olhos de um homem de negócios. Mas para mim é interessante, intensa e rica.
Se tiver de dar uma pontuação a cada um destes focos facilmente ia perceber que, a cada momento há uns mais investidos do que outros. Claro que quero ter tudo no máximo, cheio e a transbordar, mas isso não consigo, então vou variando o foco consoante aquele que quero ver mais cheio ou aquilo que está a ficar mais fraquinho.
Tenho tido a sorte de as coisas me correrem naturalmente bem. Sei bem o que isso é, e o valor que lhe dou, só eu sei. Nunca precisei de tomar uma decisão muito difícil (embora tenha feito muitas escolhas e tomado muitas decisões e, o que separa o momento da fotografia em cima e o dia de hoje são, não só 15 anos mas um conjunto de escolhas e caminhos que me tornaram a pessoa que sou hoje -não seria melhor nem pior, mas diferente) mas, daquelas mesmo duras, de correr o risco de apanhar com a tal -“lâmina que nos parte em dois”, de ter de abdicar de alguma coisa em detrimento de outra essas ainda não tive de tomar. E lá vou conseguindo reabastecer os meus níveis de energia sempre que eles precisam. Mas quando há uma que falha tento pensar: deixa-me lá ver onde é que eu posso ganhar energia.
Porque se tudo está em baixo, e nada fazemos contra isso, não há hipótese: Game Over.
A música sempre teve um papel muito importante na minha/nossa vida. Passei a adolescência de fones nos ouvidos e, na verdade, a minha vida tinha uma banda sonora, o que era espectacular. Era como se fizesse parte de um filme. O que ia ouvir no autocarro iria comandar como iria estar nesse dia, (e também vice-versa). Conforme me sentia quando acordava escolhia a banda sonora correspondente.
Ou seja, se estivesse bem dispota ouvia reggae, música brasileira, se estivesse mais sombria ouvia, por exemplo, Nirvana ou o Lou. Se estivesse na lama, era fácil, botava os Sigur rós e não era com muito esforço que até chorava e que conseguia passar um dia inteiro deprimida e a achar que era tristíssima a minha vida (quem é que não gostava de um bom drama)
Se ia a ouvir Rancid ou Clash era certo que me baldaria às aulas ou pelo menos não ia prestar atenção e sentia-me uma rebelde sem causa.
Se ouvisse o Keith Jarett, que também muito me acompanhou na adolescência e pós adolescência, ficava mais inteletual, sentia-me com mais dez anos, e começava a ler o Kafka ou o Dostoiévski sem parar. Se me desse para ouvir Bob Dylan, Doors ou os Beatles ficava nostálgica punha uma fita na cabeça e calças à boca de sino (e assim passei uma boa parte da minha adolescência). Tive sempre grandes ídolos, e cada um mais marcante que o outro consoante a fase que me encontrava.
E assim andei eu, de fones nos ouvidos anos e anos a fio a deixar a minha vida a ser comandada por aquilo que ia ouvindo. Tive todas as fases que se pode ter – e por isso tenho uma esquizofrénica coleção de cd’s que vai de Iron Maiden a Milton Nascimento. O que na verdade sempre deu imenso jeito pois tinha conversa com todo o tipo de pessoas. Pusessem-me um metálico, um rasta ou um fã do Bruce Springsteen e lá estava eu para falar dos seus ídolos como se fossem meus ídolos também – e eram.
Claro que A partir de 97, foi o mega mega boom. De repente a música tomou mesmo conta da minha vida. De repente era tudo o que eu queria (de tal forma que deixei de estudar pois queria ser DJ). A minha semanada e primeiros ordenados eram gastos em discos e concertos. Vi o Tricky, Massive Attack e Beck nos seus primeiros concertos. Fiquei logo agarrada (e extasiada) quando saiu o disco de Thievery Corporation. Era tudo novo e tudo bom. E não paravam de sair bons discos. Enfim, foi a perfeita loucura.
Na verdade, mesmo a nossa história de amor começou pela música: Apaixonei-me pelo Francisco quando percebi que ouvíamos a mesma música (na verdade já tinha um fraquinho quando vi um rapaz com uma t-shirt de Jesus and Mary Chain) e desde os 16 anos que apesar de termos o mesmo gosto nunca comprávamos os dois o mesmo disco: “Assim quando casarmos vamos ter muito mais discos”.
Viviamos então a gravar cassetes. Que ainda guardamos no cimo de um armário. E prometemos que iamos sempre ser assim (e que íamos viver felizes para sempre, a ouvir a mesma canção).
Lá em casa a música está sempre ligada, ao contrário da televisão que está sempre desligada. E os nossos filhos não só conhecem e reconhecem os clássicos – Johny Cash, Bob Dylan, David Bowie, etc – como já têm os seus preferidos nem vos conto quais são…)
Eu digo-lhes que quero que estudem, sejam bons alunos e no futuro tenham bons empregos. Mas o que eu gostava mesmo era que eles tivessem uma banda…
Desde que acordo que a minha cabeça, começa a pensar em tudo o que quero fazer nesse dia. A minha agenda enche-se, semanal e diariamente de uma série de “to-dos” que sei que ficarei feliz de os ver cumpridos.
De dia e de noite tenho sempre coisas para fazer. Compromissos com os filhos, compromissos no trabalho, compromissos na cozinha.
Então, e o resto? E há tanto resto… Um marido, uma máquina de costura, agulhas de tricot e livros. (Já para não falar da decisão que tomei de descansar mais e deitar-me mais cedo).
As minhas noites da semana dividem-se entre as vésperas de ir correr às 6am e as próprias noites que fui correr às 6am. E, por isso, para além de tudo o resto, tenho sempre o fantasma do “tenho de dormir”.
Ok, e são muitas as noites que durmo. Não cedíssimo, mas cedo q.b.para não cair para o lado. E então, noite após noite tenho decisões dificílimas para tomar. Decisões estas com as quais andei a sonhar o dia todo. “Logo à noite vou isto, aquilo e aqueloutro” mas depois, o que acontece é que a noite é mínima.
Miúdos a dormir, casa arrumada já vamos em dez e picos. E agora? o sofá chama, óbvio. Naquele momento é tudo o que mais me apetece. Mas… e todos os projectos que me andam na cabeça. E o livro que estou a adorar? Em que parte é que fica tudo isto no meu dia a dia?
Enfim, dúvidas de uma pessoa com pouco tempo mas muita vontade. Então vou gerindo, noite após noite o que vai ter prioridade.
E, às vezes, quando o sofá não é o primeiro escolhido percebemos que afinal a noite é muito maior do que se imagina. E o cansaço sobrevalorizado. Nada que não se resolva com mais um café e uma noite bem dormida no dia seguinte.